15/02/2010 - 14h24 ( - Agência EFE)
O papa está "muito preocupado" com os casos de abusos de padres católicos a crianças na Irlanda, afirmou hoje o cardeal Sean Brady, arcebispo de Armagh e primaz do país, que se reúne no Vaticano com Bento XVI para discutir a polêmica.
"Este é o terceiro encontro com o papa sobre esses casos em sete meses. Acho que o pontífice está muito preocupado", disse Brady à "Rádio Vaticano", no primeiro dos dois dias de reuniões de Bento XVI e da Cúria Romana com representantes da Conferência Episcopal Irlandesa.
Brady disse que o encontro foi "muito preparado" e é "mais um passo nesse longo caminho", e expressou seu desejo que dê espaço "a um processo de arrependimento, renovação e reconciliação para o bem de todos".
O cardeal disse que o objetivo do Vaticano e da Igreja irlandesa é proteger as crianças.
A reunião com o papa é a continuação da realizada em 11 de dezembro passado no Vaticano, que teve a presença de Brady e do arcebispo de Dublin, monsenhor Diarmuid Martin, assim como do cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, de cardeais e arcebispos da Cúria Roma e do Núncio na Irlanda.
A reunião, que começou nas primeiras horas de hoje, se estenderá até as últimas horas desta tarde e continuará amanhã durante o dia todo.
O Vaticano não deve informar hoje do ocorrido na reunião.
Em novembro passado foi divulgado um relatório oficial que denunciou que durante os últimos 30 anos pelo menos 400 crianças foram vítimas de abusos cometidos por 46 sacerdotes da arquidiocese de Dublin.
Até quando vamos fingir que isso não tem nada a ver conosco? A opinião pública tem que tomar uma posição a respeito disso, até porque esse não é um caso isolado.
Vários episódios parecidos apareceram nos EUA, Ásia, África, sendo que nesses últimos a extrema pobreza leva ao descrédito das vítimas, diferente do que acontece nos países desenvolvidos onde os pais tem poder econômico para levar os monstros – não acho um termo mais leve para definir quem faz isso com uma criança - a justiça.
Eu acho qe devemos respeitar os dogmatismos religiosos. A fé de cada um só diz respeito ao mesmo. No entanto, essa questão do celibato na Igreja já a séculos tem levado a situações constrangedoras começando com as famílias de clérigos na Idade Média– linhagens mesmo, do tipo: bisavô, avô, pai, filho... O que comprova o óbvio: não praticavam o celibato.
Relatos colhidos pelo Tribunal do Santo Ofício – que instaurado no século XI como forma de controle dos excessos dos clérigos e só posteriormente na contrareforma, quando é reativado (pois foi desativado no século XIII) ele pasa a ser um elemento de coação aos não católicos, notadamente os judeus – trazem coisas que até parecem piadas, mas é sério: ao chegar em uma aldeia o inquisidor conversando com os camponeses encontrou uma mulher que recebeu um padre em sua casa e, na primeira noite, ele “conheceu” a ela e na segunda noite “conheceu” também a sua filha e depois “conheceu” a ambas no tempo que lá esteve. Conheceu é um eufemismo para “fazer sexo”.
O Inquisidor perguntou a ela “ e a senhora não reagiu a isso?” e ela na sua inocência respondeu “não meu Senhor, ele não era um homem, era um padre, portanto ele sabia o que estava fazendo e não era pecado.”
Quando a Reforma ocorreu, no Século XVI, o celibato foi questionado por Lutero baseando-se nas escrituras que dizem:
“Convém pois que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia; (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?) Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo" (1 Tim. 3:1-7).
No entanto, em nome da tradição, no Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III (e levado a término pelo Papa Pio IV) para assegurar a unidade da fé, realizado de 1545 a 1563, o 19º concílio ecumênico, a Igreja manteve o celibato obrigatório.
“Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido.
O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher, ao marido.
A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.
Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira, e outro de outra.
(1 Coríntios 7: 01 -09).
Sabemos também que há casos de exploração de favores sexuais exigidos dos padres junto as freiras, principalmente na Ásia e África.
Claro, também ocorrem em outros lugares, inclusive aqui no Brasil, no entanto, nesses lugares elas estão em missão, longe de todos os seus pares e são eles, os sacerdotes do sexo masculino, que recebem os recursos da santa Sé para repassar a elas...Ou cedem ou acabam ficando sem o necessário para subsistir.
Como esse é um escandâlo interno é muito mais fácil de ser silenciado: o voto de obediência é evocado e a vítima convidada a silenciar em nome da fé. Ao agressor cabe uma reprimenda e, as vezes, uma transferência paroquial, sem mais problemas...E tudo recomeça.
Será esse o amor pelo próximo do qual Jesus nos ensinou ? Até quando vamos nos silenciar ante ao mal impetrado aos mais frágeis dentre nossos irmãos? Independente da bandeira e credos, somos todos filhos de um mesmo Pai.
Me sinto indignado com essas questões e so me resta bradar:
“Exurge, domine, et vindica causam tuam”
( Levanta, Senhor, e vindica a tua causa).
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