terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

E começa tudo de novo...


E lá se foram as "férias". 

Nem foram de fato férias para mim porque eu fiquei estudando e um mês não da pra fazer muita coisa.
Primeiro dia de trabalho, retorno e reencontro com todos os colegas e, pra variar, aquelas reuniões e solenidades que duram horas e mais horas em meio aos burburinhos dos grupos.

"Ah, como era bom quando eram 180 dias letivos e tinhamos 02 meses de férias" foi a primeira coisa que eu ouvi ao encontrar uma colega ja com algumas décadas de sala de aula.

A escola tem aumentado sua carga horária, mas não tem mudado muito. "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais": estamos caminhando para a escola integral (40 horas semanais) a passos acelerados - no meu estado ja esta vigorando este ano uma nova carga horária de 30 horas por semana para o aluno e para o professor, que trabalha mais e nao recebe a mais...Mas a metodologia da escola não muda.

A escola no Brasil virou um "depósito de gente" praticando uma educação quantitativa e não qualitativa.

Falta investimento em tecnologia, abertura a novas idéias e metodologias e quem tenta inovar sofre o ônus de, muitas vezes, arcar com os custos - inclusive materias- da inovação.

Existe um folclore que professor não trabalha, que "é so dar aula" - como se dar aula, lidar com a diversidade de dezenas de adolescentes com os hormônios a flor da pele, total desvalorização social da educação, violência no âmbito escolar, ausência de estrutura, entre outras questões- fosse fácil.

A aula não começa lá quando "bate o sinal". Ela começa várias horas ou dias antes, quando o educador se senta para planejar a aula, ler o que vai ser explicado, elaborar questões relacionadas aquele conteúdo específico da matéria... E depois da aula dada vem o retorno para casa com atividades a serem desenvolvidas no "lar, doce lar": provas, trabalhos, pautas a serem preenchidas, relatórios de rendimento individual de alunos e novo planejamento da aula seguinte.

Some-se a estas tarefas ligadas ao contexto da aula as questões "educacionais-administrativas": reuniões semanais de planejamento geral com professores da mesma disciplina, reunião mensal da escola, reunião mensal de pais e professores, reunião dos conselhos de escola, atendimento a pais de alunos sobre desempenho (acima ou abaixo da média) e questões disciplinares...Tudo isso acontecendo fora da sala de aula e pelo qual não se recebe, mas se é obrigado a fazer.

Para cada aula dada gasta-se o mesmo tempo com atividades paralelas. Se o professor trabalha 30 horas na escola, fatalmente irá trabalhar mais 30 horas em casa para dar conta das questões administrativas e educacionais vinculadas aquelas aulas.
 Como sou estatutário (concursado) ainda trabalho menos: 25 horas de aula e umas 25 de atividades correlacionadas.

O "trabalhar menos" significa que eu trabalho "só" 50 horas por semana, diferente dos meus colegas que trabalham de 07 da manhã as 22:40 de segunda a sexta e passam os fins de semanas atras de pilhas de papel e tem uma carga horaria de 80, 90 horas (só fazer as contas).

Algo que eu também ja fiz, mas que não vale a pena por não haver retorno substancial disso sobre nenhum aspecto.

Não é a toa que a educação deixou de ser uma carreira atrativa e os vestibulares para os cursos de licenciatura tem, quando muito, 02 candidatos por vaga ou até menos que 1 dependendo da área. A 12 anos atrás quando eu entrei na Universidade Federal eram 08 candidatos por vaga.

Não há ideal, autruísmo ou sonho que resista a anulação da própria existência para perpetra-lo. Em última instância prevalece o imperativo biológico.

O professor é uma pessoa, um ser humano - bom, quase todos, que alguns são mesmo uma peste, rs- e ninguém pode viver para o trabalho.

"Professor só reclama": para a sociedade é cômodo ignorar a realidade da escola ou a exploração do professor "desde que alguém faça e a baixo custo - se fosse de graça seria ainda melhor - "todos" ficam satisfeitos".

É o CAPETALISMO! rsss.

Estudo realizado durante dois anos, financiado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), envolvendo 52 mil educadores em 1.440 escolas dos 27 Estados, revelou dados assustadores. Descobriu-se que 48% dos professores sofrem de algum sintoma da Síndrome de Bournout, que causa exaustão emocional.

As principais causas da Síndrome de Burnout são:

   1. Excesso de trabalho

   2. Sobreesforço (que leva a estados de ansiedade e fadiga)

   3. Desmoralização e perda de ilusão

   4. Perda de vocação, decepção com superiores, etc.


Os principais sintomas da Síndrome de Burnout :

a) Psicossomáticos: fadiga crônica, dor de cabeça, distúrbios do sono, úlceras e problemas gástricos, dores musculares, perda de peso;

b) Comportamentais: falta ao trabalho, vícios (fumo, álcool, drogas, café);

c) Emocionais: irritabilidade, falta de concentração, distanciamento afetivo,disfonia;

d) Relativos ao trabalho: menor capacidade, ações hostis, conflitos, etc.

Como ja desenvolvi parte da síndrome (distúrbio do sono), estou "arrumando minhas malas" e saindo da educação este ano, se Deus quiser.

No entanto, até o ultimo dia farei o meu melhor pelos alunos, mas acho que já passou da hora de fazer algo melhor também pra mim.

A revolução acabou.

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